DIVÓRCIO
DIVÓRCIO
Uma querida amiga pediu para que eu escrevesse sobre o divórcio. Algum tempo atrás alguém já havia me pedido para escrever sobre esse assunto, e não sei porque, mas não escrevi. Acredito que até saiba o por quê, afinal de contas, tudo o que eu faço ou diga, ou deixe de fazer e deixe de falar, no caso aqui, escrever, eu sei. Como dizia a terapeuta que frequentei por 5 meses quando me separei, me divorciei, “tu és o único paciente que chega aqui com perguntas mas que já tem as respostas”, isso porque, quando comecei a fazer a tal terapia para poder me entender, entender o motivo de toda a explosão que estava acontecendo dentro de mim, na minha vida, completamente transformada, modificada, fui recomendado que fizesse e assim o fiz.
Foram meses de bastante conversa para me aceitar, me conhecer e me entender – é muito bom ter alguém para conversar nesse momento, alguém que seja imparcial à situação e te diga o que nem queres ouvir mas é preciso ser dito e escutado – até, como ela mesma dizia, “tu não precisa de terapia, tu já faz a tua própria terapia”, até que parei, também por ter perdido o convênio da escola que trabalhava, mas, principalmente por tempo – saí de uma escola e peguei três pra trabalhar.
Eram turbilhões que vinham à mente, sem jamais interferir nem atrapalhar no meu desempenho no trabalho (dava aula manhã, tarde e noite e até nos finais de semana), deixando fluir como sempre fluiu, embora lá dentro de mim o choro explodia, a gama de pensamentos sobre tudo eclodiam, mas conseguia controlá-los não deixando que me atrapalhassem. Não é fácil, aliás, nada fácil, mas eu me esforçava ao máximo e conseguia.
O divórcio provoca reações incompreensíveis nas pessoas. Se estão se divorciando, é porque o casamento, a relação entre as duas pessoas já está falida, já não é nada mais o que deveria continuar sendo, não importando quantos anos esse relacionamento tenha, o certo seria mantê-lo até para o todo sempre – e todos nós sabemos disso, pois nascemos e nos criamos num ambiente que era assim – mas hoje as separações acontecem com maior frequência porque as pessoas não tem mais aquela capacidade de entendimento, compreensão da outra pessoa. Todos nós, à medida que o tempo vai passando, nossos pensamentos vão mudando, assim como nosso corpo se transformando e percebemos que a vida está passando. Então olhamos para trás e não nos encontramos. Estamos cada vez mais egositas, intolerantes, pensando apenas em nós mesmos. Não avistamos nem mesmo aquele casal que um dia foi lindo, foi delicioso, foi prazeroso, foi tudo de bom, mas que hoje, nem mesmo vestígios ficaram. Lembranças daquele tempo vem, mas de forma trágica, de forma ruim, pois tudo que fora maravilhoso, transformou-se para algo dúbio – será que foi verdadeiro? – a dúvida vai persistir, pairar na mente até que a morte nos separe, não da pessoa que um dia amamos da qual nos divorciamos por diversos e até mesmo injustificáveis motivos, muitas vezes até justificáveis, colocando a culpa no outro, quando na verdade foi por sua própria decisão e vontade.
Quando a separação acontece é porque algo na relação foi quebrada por vários motivos. Nem sempre explicados, porque simplesmente não tem explicação. Algumas relações são rompidas por fortes motivos, onde o outro realmente pisou na bola, mas, sempre tem o mas, a maioria a separação acontece pois o desgaste emocional é muito grande e a relação física, que outrora fora quente e simbiótica, agora nada mais acontece a não ser com um esforço desmedido, causando traumas e desgaste para ambos, pois os dois sabem que não é a mesma coisa. Muitas vezes nem é a outra pessoa, e sim a gente mesmo.
Na separação sempre há o incompreendido e injustiçado. Não há empatia no momento da separação. Raramente acontece de ambos aceitarem numa boa a separação e sentirem-se livres para poderem voar como um pássaro que quer ir de árvore em árvore. A parte que se sente injustiçada se veste com todo tipo de armaduras e empunha armas as mais poderosas que o ódio, a raiva e principalmente o sentimento de abandono, de ser deixada (não estou me referindo a mulher, leiam com atenção, estou me referindo à parte, à pessoa), normalmente por outra pessoa, fazendo-se perguntas incessantes, constantes que não se respondem, embora saiba e tenha as devidas e corretas respostas ao que está se questionando, mas não as aceita.
Este tipo de reação é comum no Ser Humano em qualquer situação que ele esteja passando para auto proteção. Assim como também é inerente a nós, seres humanos termos o devido conhecimento e compreensão de tudo que estamos passando, vivenciando em nossas vidas pois a resposta está dentro de nós, basta nos permitirmos encontrá-la e aceitar que somos, muitas vezes, errados no que estamos fazendo, mas as coisas acontecem quando devem acontecer. Coisas do destino, o qual já está traçado e assim deveremos vivenciá-lo.
O que causa mais desassossego das pessoas quando entram no processo do divórcio é aquela sensação de que tudo foi em vão. Anos e anos perdidos, abandonados, extintos, como se nunca tivessem acontecido – cada um pra cada lado – mesmo que hajam vínculos eternos para a maioria dos divorciados, pois tiveram filhos e os filhos serão sempre motivo de alguma conversa, de alguma discussão, de alguma forma de reencontro – embora no consciente diga que não, mas o inconsciente diz que sim – onde os olhos, antigos conhecidos de cada expressão que deles exalam, vão se aproveitar do momento, mesmo em plena discussão com palavras que machucam, porque é assim que se tratam após um divórcio – raro quem se divorcia e fica numa boa, amiguinhos e aceitando tudo sem nada pensar, sem nada reagir – pois é através das discussões que conseguem manter a distância um do outro, mesmo que os seus pensamentos sejam de aconchego, de recordações das bocas se entregando avidamente, lembrando de seus corpos enlouquecidos de prazer ao se tocarem – mas os impropérios continuam a serem ditos para arrasar um com o outro, mas lá no fundo o que ambos querem é voltar ao que um dia foi tão legal, tão mágico.
As circunstâncias não permitem, o momento não aceita, a realidade não admite a reaproximação, porque o orgulho ferido é maior do que qualquer sensação de prazer.
Aquelas palavras do padre no final da cerimônia do casamento, QUE SEJAM FELIZES PARA SEMPRE ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE é na verdade uma profecia e uma praga, pois realmente, assim deveria ser. Por isso, por mais feliz que a pessoa esteja vivendo, e bem com outra parceria que tenha encontrado, sempre vai ter aquela manchinha no seu pensamento daquela pessoa que um dia foi dito que somente a morte os separariam, e assim, ali, matutando, nem sempre, mas surge do nada ou quando algum gatilho é acionado lá vem ela se pondo diante de si e algo acontece pois os pensamentos flutuam, viajam e vão longe te deixando à deriva num mundo de questionamentos de muitos porquês sem resposta até se misturarem com a atual realidade e entender, aceitar que a vida é mesmo assim, e devemos vivê-la o mais intensamente possível, sem pensar no ontem, vislumbrando o futuro, sem colocar perspectivas para coisas que queiramos que aconteça, mas simplesmente deixar acontecer.
Sei o quanto é difícil deixar todo um passado para trás sem deixar interferir na tua vida no presente, sem pensar num futuro livre de cobranças, sem os vícios cometidos no passado. Mas é assim que devemos agir, assim que devemos viver a partir do momento que estamos divorciados. A solteirice está acontecendo novamente mas não somos mais quem um dia fomos e isso deve pesar muito para não se cair em um novo poço sem fundo. Porém, não deixe a amargura causada pelo divórcio, te afastar de algo bom que possa se aproximar da tua vida e fazê-la sentir novamente o que é amar, agora com mais maturidade e realidade. Não deixe de esclarecer, falar tudo para que mais adianta haja outro arrependimento. Se tiver que dar certo que seja com total franqueza e clareza.
Não temos mais tempo a perder. Vamos viver a vida. Isso que importa.
JOSÉ FERNANDO MENDES – 28/11/2024 – 14h33
JOSÉ FERNANDO MENDES
Enviado por JOSÉ FERNANDO MENDES em 28/11/2024