NUNCA MAIS
NUNCA MAIS
Estou há mais ou menos duas semanas com essa expressão no pensamento e não consigo escrever sobre ela, talvez por falta de vontade, talvez por medo de escrever sobre algo que eu venha até mesmo me assustar do que vou escrever, pois penso muito nela e também nas duas palavras sozinhas, ditas o tempo todo por todas as pessoas, com sentido, quando unidas, muito forte e único.
Nunca mais é composta por duas palavras contraditórias entre si mas que, juntas, formam uma força de expressão muito forte e sem volta.
Nunca é uma palavra que significa jamais – já escrevi sobre a palavra JAMAIS e cito nunca como sendo uma palavra que nunca devemos dizer, a não ser em apenas uma situação, que vou citar logo a seguir, mas que, quem está lendo, deve estar sabendo qual situação me refiro. Nunca significa também em hipótese alguma, em situação alguma, em nenhum momento e assim por diante.
E as pessoas a dizem, a pronunciam como se fosse realidade, mas não é, na maioria das vezes que a pronunciamos. Citamos nunca como se fosse algo temporário, mas não é. Pelo menos não deveria ser, no meu ponto de vista, que fico analisando e ponderando dentro do meu pensamento o significado das palavras e como elas são ditas, citadas pelas pessoas de forma errônea, como essa, nunca.
Digo que nunca é falada de forma errônea porque a maioria das vezes voltamos a fazer ou dizer, ou realizar ou a ver, aquilo pelo qual dissemos nunca. A maioria da vezes quando citamos nunca é para nos referirmos a algo que acabou, terminou, não queremos mais, não olharemos mais, não e não e não mais.
Para tantas coisas dizemos não mais, acabou, e o pior de tudo é quando dizemos para nós mesmos. Quando nos dizemos que acabou, dependendo do que seja, é até positivo e se faz valer o retorno de voltar à ideia e desdizer o que disse que acabou, que nunca mais, pois nós devemos nos dar sempre mais uma chance, e mais outra e tantas outras mais que tivermos que ter para conseguirmos o que pretendemos, para alcançarmos o que desejamos. Porém, tem o lado, que normalmente é o que mais acontece, para situações que não deveríamos voltar a dizer sim, e acabamos abortando, abandonando o nunca mais, para retornar ao que era. Podem pensar quaisquer situações que imaginarem que não deveria voltar, mas voltamos por diversos motivos. Muitas vezes esse voltar por algo que não deveríamos, então, ter dito nunca mais, ou jamais, nos prejudica, mas não temos forças para mantermos e com o passar do tempo nos percebemos da bobagem que fizemos ao desfazermos o que seria para nunca mais.
Pois aí, vem o por quê de eu estar escrevendo sobre NUNCA MAIS, porque, do meu ponto de vista, modo de pensar, essa expressão só deveria ser dita para a morte. Aí sim, será nunca mais.
Fiquei pensando sobre isso, nessas ultimas duas semanas porque um vizinho faleceu e todos os dias passava pela casa dele quando ia comprar jornal e o cumprimentava e nos falávamos alguma coisa – sobre o tempo, sobre qualquer coisa, apenas para nos falarmos – e agora, continuo buscando o jornal todos os dias e todos os dias olho para a casa dele e não o vejo mais, e NUNCA MAIS o verei. Acabou a vida para ele, e assim comecei a pensar na morte de modo geral. A única coisa certa da vida – e isso minha mãe dizia muitas vezes – é a morte. Ela tinha razão, porque como citei anteriormente, nada mais é para sempre. Portanto, não deveríamos dizer, pronunciar esse termo nunca mais para mais nada além ao nos referirmos para a morte, pois enquanto estivermos vivos, estaremos suscetíveis a mudanças de pensamento, de lugar, de caráter e de tudo a todo momento em que estivermos sujeitos a compartilhar coisas, com alguém, com a vida, com o que eu sou.
Nunca mais, é uma expressão forte porque nunca é jamais e mais significa acrescentar, adicionar, aumentar, exceder. As duas juntas então é uma explosão de contraditórios em nossas vidas, por isso, quando as pronunciamos juntas, a não ser pela morte, elas sempre terão reversão e nada significam, apenas como força de expressão para demonstrarmos poder no que estamos dizendo, para mostrarmos a quem seja, quer estiver participando daquele momento, que somos fortes, que somos determinados, mas na verdade, se analisarmos o seu real significado teremos que é uma expressão facilmente e comumente revertida ao estado natural e normal do que fora (leia a letra ‘o’ fechada, como se tivesse acento circunflexo e não aberto, para o significado do que escrevi).
Nunca mais então, quer dizer JAMAIS ACRESCENTAR, , JAMAIS AUMENTAR, JAMAIS FAZER. São palavras que se contradizem. Podem pensar em algo que se diz nunca mais e não sejam ações contraditórias! Se encontrarem alguma, por favor, gostaria de saber, mas me venha com bons argumentos para me convencer.
Nunca mais vou voltar aqui nesta casa. Frase muito comum dita por jovens que pensam serem donos da verdade e que vão conseguir se virar sozinhos na vida e depois de algum tempo – nem sempre longo tempo – voltam com o rabinho no meio das pernas, ou não, mas voltam como se nada tivesse acontecido e NUNCA tivessem pronunciado essas palavras. Não adianta, o tempo cobra, o tempo apaga, o tempo esclarece tudo e nos mostra que jamais devemos dizer nunca mais a não ser para a morte.
Assim como o exemplo que dei, poderia citar dezenas de outros nunca mais que dizemos durante nossa existência, e acabamos voltando. Então, para quê dizer NUNCA MAIS, se não sabes se vai ser até a morte? As pessoas dizem nunca mais de forma banal, por ser uma expressão que toca no fundo do nosso cérebro e do nosso coração e causa uma reação como se fosse de morte mesmo, embora não seja, mas é essa reação que causa para quem escuta alguém pronunciá-la, embora, lá no inconsciente saibamos que o nunca mais é apenas um até mais, até breve.
Nunca mais deve ser dito somente e apenas quando nos referirmos a alguém que morreu, ou algo que deixou de existir ou de nos impossibilitarmos de termos.
Certa vez um médico ortopedista me disse (eu tinha 24 anos nessa época) que só conseguiria fazer meu braço quebrado parar de doer se o deixasse imobilizado e nunca mais poderia movê-lo para nada, ou amputá-lo. O termo nunca mais se aplica nessa situação, de ficar sem o braço, mesmo não o tendo, mas não tira o sentir a dor. Eu poderia ter perdido o braço mas poderia continuar a sentir a dor. Quando argumentei isso pra ele – Dr. Ênio – ele me olhou e disse que eu tinha razão. Então nada foi feito e fui adaptando e acostumando com a dor.
Agora com a enchente muitas pessoas perderam tudo ou quase tudo que tinham conquistado durante toda a vida (inclusive minha ex esposa, meu filho mais novo e minha filha com seu marido) e para muitas coisas que perderam podem dizer que nunca mais terão isso ou aquilo, mas a partir do momento que conseguirem se reerguerem e irem repondo o que de material perderam, vão perceber que o nunca mais não se aplica porque conseguiram substituir, embora, nem sempre a substituição seja a contento, mas pelo menos ameniza a falta do que se perdeu.
Agora estou aliviado. Consegui escrever sobre NUNCA MAIS e voltar a escrever textos no Blog que, depois da publicação do livro arrefeceu o ânimo e a vontade, não as ideias, mas agora estou mais voltado para a poesia. Nunca disse que nunca mais iria escrever, pois sabia que um dia retornaria. Assim espero que tu, que estás lendo, também nunca diga nunca mais de forma banal, porque vai voltar a acontecer, tenhas certeza disso, por mais que sejas uma pessoa teimosa que possas ser e detentora da razão, tu vais voltar atrás (outra expressão que usamos de forma equivocada e vou escrever sobre ela também).
JOSÉ FERNANDO MENDES – 24/09/2024 – 18h40)
JOSÉ FERNANDO MENDES
Enviado por JOSÉ FERNANDO MENDES em 24/09/2024
Alterado em 24/09/2024