CORRIDA PELA SOBREVIVÊNCIA
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CORRIDA PELA SOBREVIVÊNCIA
Estava fazendo o almoço, e escutei o cocoricó dos galináceos - chamo assim os frangos e frangas, galos e galinhas, no total de 14, eram mais, mas os galos fui abatendo porque suas cantorias quando adultos ficam insuportáveis, porque são cantores tenores e líricos e não tem hora pra cantar, escutar pela manhã, madrugada, 5 da manhã, não é nada agradável, principalmente para os vizinhos – que ficam a postos com a expectativa de ganharem algum petisco diferente do milho e ração diários e à vontade que ganham. Sempre que estão ali, olhando pra mim, atiro pedaços de legumes para eles ficarem felizes cocoricando e até brigando pelo que lhes entrego.
O que mais gosto é quando vou até o pátio deles com algumas porções maiores de legumes e frutas para lhes dar e não preciso nem chamar, saem correndo batendo as asas e claro, cocoricando, pois sabem que algo apetitoso vão receber. A corrida é acirrada, os maiores nem sempre levam vantagem, por serem mais pesados, mas se vingam quando chegam bicando com seus bicos mais proeminentes, mais formados e com poder doloroso maior. Atiro em porções para um lado e para outro para evitar que haja muita disputa injusta pela comida. Os maiores dominam e não deixam os menores chegarem perto, sendo que às vezes tem um ou outro que se desafiam e resolvem encarar os grandalhões, e chegam sorrateiramente – percebo e fico admirado de ver a perspicácia que usam para se aproximar na tentativa de conseguir um pedaço de petisco ( e dizem que os animais irracionais não pensam, acredito que pensam sim) – pegam o petisco e saem correndo para degustá-lo longe, sem perigo de ser bicado, embora, às vezes, um outro chega e toma conta do petisco e sai correndo também. É muito legal de ficar observando as reações dessas aves em busca de comer mais para a sua sobrevivência, mesmo tendo vários potes com milho e ração, além de água à vontade, mas isso não os impede e nem os consola, eles correm em busca de algo mais pra si, e brigando por ter seu espaço só para si, sem deixar que outros se aproximem.
Outra coisa que observo, é que as galinhas que já estão em fase de postura, se acolhem e não se bicam, comem juntas e até compartilham o alimento, e sempre um galo que toma conta delas e usufrui do que elas tem para lhe dar; mas caso chegue outro ou outra, saem dando bicada, não permitindo que coma o que é delas. Até entre eles existe a tal panelinha.
Então, vendo essas reações que fico pensando, divagando sobre o comportamento dos galináceos não é muito diferente dos seres humanos quando se sentem ameaçados pela falta de alimento ou do que lhes seja necessário para sobreviver.
Essa não é a postura apenas aqui no Brasil. Vemos no mundo todo as calamidades que acontecem e as pessoas comprando ou saqueando mercados, lojas, carros, preocupando-se em se defender e se sustentar por algum período que possa vir chegar ao ponto de faltar os produtos ou objetos.
Estamos numa situação de enchentes que as chuvas não param, os rios transbordando e milhares de casas e pessoas tendo que abandonar suas casas, e vemos pessoas, com medo de ficarem sem comida, sem água, fazendo estoques, comprando mesmo sem precisar, de forma desenfreada, mas pensando na falta que pode acontecer, pensando em sí e nem aí para os que realmente estão sem nada, precisando mais.
Essa mesma postura que vejo nos galináceos. Percebo nos dois cachorros que tenho, um sempre querendo mais do que o outro, indo lá para ver se o outro não ganhou mais, ou até tentando tirar do outro para ficar só para ele. Minha gata Milu, de 8 anos, agora vive com as galinhas por não aceitar dividir a casa com uma nova gatinha que surgiu acuada, e ficamos com ela. A Milu se incomodou e foi conviver com as galinhas. Às vezes dorme com as galinhas, no galinheiro, outras com as abelhas sem ferrão no meliponário. Tudo porque não aceita a vinda da Tequila. Coisa de pessoas, que os animais também aplicam nas suas vidas. O tal preconceito, que pensamos sermos donos e únicos a sentir e praticar.
Essa postura não é única dos seres humanos, chamados animais racionais, porque pensamos de forma inteligente (será?), mas também ocorre entre os animais, e se observamos com mais atenção, perceberemos que todos agem dessa forma: buscando pra si. A verdadeira corrida para a sobrevivência.
Vejo nos bandos de pássaros que estão sempre nas árvores e comem junto com as galinhas: as Pombas Rolas, os Pardais, Canarinhos, Bem-Te-Vis, Sabiás, às vezes Bicos de Lacre, Saíras 7 Cores. Ontem até um Fin-Fin estava no pé de louro buscando sua comida. Todos eles agem da mesma forma, e até briga acontece, quando um invade o espaço do outro. Todos querem mais para si e não permitindo a intromissão de outro naquilo que é seu.
O egoísmo também impera no reino animal. A busca de alcançar mais, não importando se o outro tem ou não, também acontece no reino animal. A disputa pelo alimento também acontece, e muito, no reino animal. É muito interessante, engraçado ficar observando e analisando o comportamento desses animais e fazendo analogias com os seres humanos.
Essa correria toda de pessoas correndo em busca de se abastecer não é única dos seres humanos, todos os seres vivos fazem isso, tem a mesma postura, tem o mesmo senso de autodefesa e sobrevivência.
Isso não é um consolo, para nos desculparmos por sermos taxados de egoístas, mal caráter e tudo o mais que dizem e comentam sobre esses comportamentos – até somos mesmo assim – mas para percebermos que não somos únicos, nem sozinhos nessa corrida maluca e desvairada pela sobrevivência.
(escrito em 28/05/2024 – 15h22)
JOSÉ FERNANDO MENDES
Enviado por JOSÉ FERNANDO MENDES em 27/05/2024