SIM
SIM
A palavra a escrever seria outra, comecei pensando em escrever sobre sorvete e ao vir para o computador mudei para LER, mas ao passar pelos títulos de todos os textos para confirmar se já não havia escrito – agora tenho que fazer isso, pois já são 224 escritos, com esse, 225 -, verifiquei que já escrevi sobre LEITURA, depois vou ler e ver se o enfoque que daria em LER é o mesmo que dei em leitura, caso não seja, escreverei amanhã. Mas ao verificar os títulos um me chamou atenção, foi o texto NÃO, escrito em 02/05/23, e o que me admirei é não ter escrito sobre o oposto, SIM, por isso eis-me aqui agora, a escrever sobre o SIM, como sempre, falando seu significado e suas aplicações e complicações.
A palavra SIM é uma aceitação. Quando estamos pronunciando essa palavra, ou até mesmo quando balançamos nossa cabeça para cima e para baixo, ou a expressamos com os olhos ao fechá-los de forma cautelosa e algumas vezes, ou ainda, quando fazemos o sinal com o polegar, estamos indicando que estamos aprovando, estamos concordando, estamos permitindo e tudo o que envolve SIM. Daí pode tudo. Eis o problema, quando acima comentei que haveriam complicações. Muitas vezes dizemos apenas SIM, mas esse sim vale por muitas compreensões e entendimentos, podendo nos levar a alguns enrroscos, sem nem nos darmos conta de que foi pelo simples fato de ter dito SIM.
O SIM é permissivo demais, podemos usar o TALVEZ, o PODE SER, o QUEM SABE!, o DEPENDE e algumas outras que no momento não estou lembrando, mas essas, são as mais usuais. Eu usava muito o PODE SER quando meus alunos me perguntavam como poderiam fazer os trabalhos, eu lhes perguntava as ideias e dizia PODE SER. Alguns se incomodavam porque eu nunca dizia não nem sim. Pra mim o pode ser é um sim com permissão livre para fazerem o que quisessem, mas podendo ser de outra forma também, não é um sim totalmente aberto, podendo haver mudanças, substituições, trocas e assim por diante. Afinal, quem sou eu para dizer que tem que ser assim como eu quero que seja, se o que estava em jogo e a proposta era eles aprenderem, eles pensarem, eles criarem. Chegavam a dizer que os outros professores exigiam que fosse igual ao que eles queriam. Comigo sempre foi diferente. Para meus filhos também dizia o tal pode ser e alguns anos depois disseram-me que eu não dei limites a eles, permitia tudo. Proibir pra quê? Era a vida deles, só por ser pai não iria proibir, impedir de terem as suas próprias experiências. Era e sempre fui permissivo mas sem dizer SIM, e isso confundia e confunde bastante as pessoas, porque cabe a elas tomarem as decisões, e nem todos estão preparados para uma vida de decisões.
Dizemos SIM o tempo todo para tudo. O SIM mais esperado de todos é o SIM no dia do casamento, quando os noivos dizem um sim absoluto para uma promessa de amar, respeitar, ser fiel, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença até que a morte os separe. Mas no primeiro obstáculo que aparece que os dois deveriam se unir para superar, já, muitas vezes, acabam se separando e percebendo que aquele sim não deveria ter dito. Eis um dos motivos pelo qual eu não gosto de dizer SIM, assim como não gosto de dizer NÃO, não gosto de radicalismos que poderão me comprometer depois. No casamento ninguém tem que prometer nada, principalmente num momento que nem está pensando, embora saiba que isto será dito e a resposta será pronunciada de forma automática sem nem ter pensado – ou tavez sim, tenha sido pensada – no comprometimento, no compromisso assumido a partir daquela aceitação no calor do momento diante de tantas testemunhas. Que se dane testemunhas, os casamentos são desfeitos sem darem a mínima para O QUE DEUS UNIU NADA NEM NINGUÉM PODE SEPARAR. Simplesmente se separam, sem ao menos tentarem superar ou criarem novos planos, novas expectativas para darem continuidade a algo que, se um dia aconteceu, o casamento, é porque houve algo em comum entre eles, então, poderiam conversar, dialogar – ah, mas isso é muito difícil, o orgulho, o duelo de egos, e outros eus e eus que existem não permitem a conciliação.
Podemos dizer SIM e nos comprometermos em várias situações, positivamente e negativamente, por isso, antes de a dizermos, antes de concordarmos, aprovarmos e a pronunciarmos, devemos avaliar todas as nuances que isso pode acarretar e me atingir.
Fico indignado quando vejo em filmes e novelas, mesmo sendo fantasiosas, sendo encenadas, textos criados, mas todos baseados no que a vida real oferece, acontece e faz, e os policiais ou advogados ou juízes fazem perguntas que devem ser respondidas apenas com um SIM ou NÃO. Nem tudo é sim ou não, e dependendo da maneira como está sendo perguntada, a resposta é sim mas a verdade é outra, portanto não é o sim a resposta, seria talvez, depende, e a situação da pessoa que está sendo acareada fica acuada, sem saída, porque deve dizer apenas sim ou não. São armadilhas da língua quando usada de forma a acabar com as pessoas. Já fiz um teste certa vez para uma terapeuta que meu filho foi encaminhado pela escola, onde eram 50 perguntas com SIM ou NÃO, respondi apenas 25 e mesmo assim algumas forcei a minha barra. A terapeuta disse que eu teria que responder a todas, para formar o perfil, então mostrei para ela, algumas que seria talvez, depende e ela disse que não, teria que ser SIM ou NÃO então fiz alguns argumentos os quais ela simplesmente disse: taí o motivo do seu filho ser assim, ele é igual ao pai, e fez mais alguma consideração que ignorei e lhe disse: Graças a Deus ele é igual a mim e não igual ao tipo como vocês. Virei as costas e saí da sala. Acho um absurdo esse tipo de avaliação. O SIM ou NÃO não nos leva a nada , a nenhuma certeza, a nada absoluto, muito pelo contrário eu penso que nos mostra o quanto limitadas as pessoas querem que sejamos para poderem traçar um perfil igual para todos. Quem não se enquadra ao perfil da massa, não é normal.
Eu dizia nas palestras motivacionais – tinha um slide que dizia FACILITE MAIS O SIM, EVITE O NÃO! – fiz isso para conscientizar as pessoas que devemos ser mais receptivos e abertos. É normal as pessoas dizerem NÃO antes de pensar qualquer coisa que seja por medo do que pode acontecer com eles se disserem SIM. Eu argumentava e fazia alguma atividade para demonstrar que não devemos ser tão negativos, sendo mais proativos e positivos facilitando o sim, mas sem jamais sermos concordatos em tudo, principalmente quando tem algo que nos incomoda e não condiz com o modo de pensarmos e agirmos. Nada vale a pena deixarmos de sermos nós mesmo por um emprego, por uma namorada ou namorado, ou seja o que for, para sairmos do nosso pensar como ser autônomo para sermos igual aos outros demais que preferem se massificar a ser diferente e, muitas vezes perder oportunidades por isso, mas pelo menos a índole, o ideal, o âmago do seu ser está intacto, está sereno, está pleno.
Finalizo esse desabafo pedindo a quem estiver lendo que se és concordato com tudo por vários motivos que tu bem sabes quais, pare de ser, deixe de ser, e diga sim apenas ao que te interessa, ao que te faz bem. Vais te sentir melhor e perceberás que tua autoestima ficará nas alturas. Mas não seja um negativista dizendo NÃO pra tudo. Nada de radicalismo, apenas liberdade de decisão e pensamentos.
(texto escrito em 23/11/2023)
JOSÉ FERNANDO MENDES
Enviado por JOSÉ FERNANDO MENDES em 24/11/2023