UM SONHO IMPOSSÍVEL
Numa noite chuvosa fui ler Machado de Assis. Estava tudo tão quieto que só se escutava os animais gritarem, e o vento que batia na veneziana do quarto e aquele toc...toc...toc... que não me deixava ler direito, pois os ruídos me despertavam da leitura .
Levantei-me e fui olhar pela vidraça o que estava acontecendo com os animais lá fora, que estavam tão agitados. Quando abri a veneziana todos os animais vieram para perto de mim. Fiquei tão emocionado e feliz que, sem perceber, abri a janela e eles, junto com o vento, entraram para o quarto .
O livro q estava aberto em cima da cama, o vento fechou-o desmarcando a página que estava lendo. Fechei a janela e fiquei na cama com os lindos animais. Olhei para o Beija -Flor e perguntei:
- O que você tem? O Beija-Flor respondeu:
- Estou morrendo de frio! E se estremecia todo.
Olhei para os outros pássaros e os vi encorujados num cantinho da cama. Levantei-me e fui acender o aquecedor para coloca-los perto. Quando voltei me deparei com os animaizinhos chorando, então indaguei:
- Por que estão chorando? O Papagaio, sempre falante, me respondeu:
- O Beija-Flor, que era tão lindo, e agora, foi para o céu dormir um sono eterno.
Não aguentei e comecei a chorar também. De repente os animais foram embora e deixaram o Beija-Flor.
Gritei por eles, mas não me deram ouvidos, e seguiram enfrentando a tempestade que continuava mais forte lá fora; e eu ali com o passarinho inanimado, porém lindo e delicado.
Eu, chorando, adormeci.
No outro dia, ao despertar, a primeira coisa que fiz foi procurar o passarinho. Mas não tinha nada em cima da cama, a não ser o livro de Machado de Assis, e as cobertas que estavam molhadas de lágrimas.
Fui para a cozinha e perguntei à minha mãe, que já estava nas lidas domésticas, sempre com um sorriso:
- Mamãe, por que os animais não falam?
Ela sorrindo respondeu: - Porque eles não são que nem nós, para poderem falar.
- Mas eu vi, com meus próprios olhos, eles falarem comigo! E fiquei intrigado com o que acontecera.
Minha mãe, passando a mão nos meus cabelos, disse que aquilo não passava de um belo sonho, e voltou ao seu trabalho, sem me dar mais conversa .
Olhei lá fora, fui até à janela e nisso um Beija-Flor, igual ao do sonho, pousou numa flor que estava bem próximo de mim, beijando-a muitas vezes, com seu modo delicado e um bater de asas incessantes, dando a entender que estava feliz, tanto quanto eu.
E foi embora para sempre, ou...
JOSÉ FERNANDO MENDES
Enviado por JOSÉ FERNANDO MENDES em 12/09/2023